Tal como previsto desde o primeiro dia de campanha Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito e será o novo Presidente. Tal como era mais ou menos previsível ganhou à primeira volta. Sobraram no entanto quase até final dúvidas quanto à realização ou não de uma segunda volta. Ouvi diversas vezes que a campanha foi péssima e desinteressou as pessoas. A avaliar pela abstenção, é verdade. Mas ainda assim atrevo-me a discordar.
Gostei muito de acompanhar esta campanha e como tal, sinto-me na obrigação de agradecer a todos os candidatos. Até à Maria de Belém, ao Jorge Sequeira e ao Cândido Ferreira, os três dos dez candidatos que não me caíram no goto.
Começo pelo fim. Apesar de faltarem contar os resultados de alguns consulados o último classificado terá sido Cândido Ferreira. O momento chave desta campanha foi a forma como protestou pela falta de tempo de antena. Marcou a campanha. Mas provavelmente perdeu o momento para mostrar o que tinha para dar. Numa eleição com 10 candidatos isso paga-se demasiado caro. No entanto se essa atitude não foi apenas "ruído" e sim uma atitude convicta, então provavelmente saiu desta campanha de consciência tranquila mesmo com o resultado negativo nas urnas.
Jorge Sequeira foi o candidato polémico destas eleições. O que numa eleição com o "Tino de Rans", o abandono do debate pelo Cândido Ferreira e as guerras entre o triângulo Marcelo, Nóvoa, Belém mostra que o que fez Jorge Sequeira fez bem. Fica no entanto fez o ruído no sentido de perda de votos. A partir de hoje as pessoas reconhecem-no. E sempre fiquei com a ideia que o que ele realmente queria era lançar uma carreira que não a de Presidente da República Portuguesa.
Henrique Neto é o senhor que se segue. Consegue uma percentagem de votos aos outros dois candidatos já referidos. Primou pela descrição, tanto que apenas nos últimos dias formei uma opinião sobre ele. Positiva, mas não o suficiente para me convencer. Penso no entanto que fez um tipo de campanha que pode ser exemplo futuro para muita gente que lhe possa dar um bocadinho mais de visão em termos de "marketing".
Paulo de Morais foi uma desilusão que não o foi. Era um candidato com relativo potencial. Mas ao mesmo tempo alguém de quem não se esperava um resultado de destaque. Acaba por ficar atrás do "Tino de Rans" o que certamente não é do seu agrado. Fez uma campanha com uma forte na aposta na luta contra a corrupção que me agradou. Concordo no entanto com Francisco Louçã quando diz que a Paulo de Morais falta denunciar publicamente o que sabe. Ficou sempre no ar essa ideia de "sei mas não digo" que o pode ter prejudicado.
Vitorino Silva, ou "Tino de Rans" foi uma das surpresas pela positiva. Acaba por ficar mais perto de Maria de Belém e Edgar Silva candidatos partidários do que de Paulo de Morais. A mim convenceu-me. Deixamos de precisar de pessoas que sabem tudo para nos representar. Precisamos de pessoas com sensibilidade para os problemas do país e que tenham a humildade de aprender e apreender o que lhes falta. A chamada para Marcelo em directo é deliciosa e mostra porque este homem simples cativou os portugueses.
Edgar Silva perdeu. Mas tem alguns resultados localizados estrondosos que até acabam por ser o que lhe permite ficar à frente de Vitorino Silva. Faltou a união característica dos militantes do PC. Não me parece que por falta de carácter ou competência de Edgar Silva embora não fosse claramente uma figura carismática nem uma "menina bonita".
Maria de Belém foi para mim a grande derrotada de toda esta eleição. Desde o lançamento da candidatura ao dia da votação passando pela campanha. Perdeu em praticamente todos os aspectos que podia ter perdido e até em alguns que podia ter ganho. Derrota estrondosa da política da velha guarda da qual todos os outros candidatos fugiram (incluindo Marcelo, Nóvoa e Edgar Silva). Mereceu o resultado que teve, ou até um pior.
Marisa Matias é uma das grandes vencedoras do dia. Mas eu não acho. O Bloco de Esquerda tem um potencial de crescimento enorme. Mas teima em continuar crescer devagarinho. Se calhar é para o bem. E daí a felicidade com estes pequenos sucessos. Fica no entanto a ideia que tanto Marisa Matias como o Bloco estão a construir algo muito maior e que parece ter vindo para ficar.
Sampaio da Nóvoa fez na minha opinião a melhor campanha de todas. De trás para a frente ganhou consistência como segundo nome mais forte e chegou a fazer duvidar a eleição de Marcelo à primeira. Pouco ou nada conhecia dele antes da campanha. Fiquei convencido e gostaria de o continuar a exercer a cidadania da forma activa que fez nos últimos meses. Portugal tem a ganhar.
Marcelo foi Marcelo. Nem sim nem não. Nem quente nem frio. Nem preto nem branco. Marcelo tornou-se um moderador. Foi-o enquanto líder da oposição. Foi-o enquanto comentador de TV. E encaminha-se para o ser enquanto Presidente da República. Hesito em decidir se essa me parece a melhor opção por agora. Mas parece-me uma opção coerente. Não recebeu o meu voto, mas é a partir de hoje o meu Presidente.
Duas notas finais.
Finalmente o pior Presidente que conheci no meu País cessa funções. Valeram alguns vetos, a dormida nas Selvagens e a decisão (eventualmente contrariado) de encontrar uma solução adequada à crise pós-eleições legislativas. Muito havia para fazer/dizer nestes dois mandatos que não foi feito/dito. E tanto, mas tanto que havia para não fazer/dizer e foi feito/dito de forma descabida.
A abstenção em Portugal é rídicula e envergonho-me de partilhar o país com pessoas que não querem saber do futuro do País. Quando em 10 candidatos não é a campanha que foi tão má assim. São as pessoas que são pura e simplesmente irresponsáveis. E nós, ao colo destes 51% temos o País que merecemos. Na parte negativa da expressão.
Luís Bernardo Valença
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